quarta-feira, 11 de junho de 2008

Sargento gay é transferido de SP a Brasília sob protesto.




Sargento gay é transferido de SP a Brasília sob protesto. Companheiro diz que houve agressãoPor



Caso
O sargento gay do Exército, Laci de Araújo, que admitiu na última edição da revista Época ter um relacionamento homossexual desde 1997 com o também sargento Fernando Alcântara de Figueiredo, foi preso pela Polícia do Exército na madrugada de terça (3) para quarta-feira (4) em São Paulo após ter participado do programa Superpop, da Rede TV!. A sede da emissora, em Barueri, foi cercada pela polícia enquanto o casal participava do programa da apresentadora Luciana Gimenez.

Os sargentos chegaram a argumentar contra a prisão até as 4 da manhã de hoje, mas acabaram concordando em serem levados pelos policiais. Somente Laci foi preso. Em entrevista à Rede TV!, após a chegada da Polícia do Exército na emissora, Araújo acusou o Exército de forçar a situação para a prisão. “Eles forçaram a situação e forjaram um laudo para me colocar como apto ao serviço, sendo que eu não estou apto, pois estou passando por um transtorno emocional grave.”

A ordem de prisão de Laci por deserção (ele passou mais de oito dias sem comparecer ao trabalho) executada em São Paulo foi emitida pela Justiça Militar no dia 21 de maio, antes da publicação da entrevista na Época. O Exército alega que a prisão não tem relação com a orientação sexual do militar, mas sim com seu crime de deserção.

Transferência
Depois de passar a quarta-feira no hospital do Exército no bairro paulistano Cambuci, Laci foi transferido para Brasília na manhã desta quinta-feira, de helicóptero. O Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) acompanha o caso. Segundo o advogado Francisco Lúcio França, o militar pode ser encaminhado a uma carceragem em Brasília. Laci foi acompanhado no hospital por seu companheiro, o sargento Fernando de Alcântara de Figueiredo.

"Eles me telefonaram desesperados. Foram obrigados a entrar num helicóptero que foi para a Base Aérea Militar de Cumbica. Estão sendo enviados para Brasília", relatou o advogado ao G1 por volta das 11h. O Condepe deseja que o Senador Eduardo Suplicy acompanhe o caso dos sargentos em Brasília.

No Senado
O senador Eduardo Suplicy irá acompanhar o caso em Brasília. Ele liderará um grupo parlamentar criado no âmbito da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado. A comissão é composta também pela senadora Serys Slhessarenko (PT-MT). Suplicy deseja que o militar seja hospitalizado.

Agressão
O sargento Fernando de Alcântara de Figueiredo, namorado de Laci Marinho de Araújo, também sargento, declarou que Laci foi agredido ao desembarcar em Brasília na tarde desta quinta. “O Laci (De Araújo) foi agredido, ele foi jogado no chão e algemado quando chegamos a Brasília", disse Fernado ao G1. O Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx) negou ao G1 que o sargento tenha sido agredido. O senador Eduardo Suplicy, que esteve com Laci, disse não ter notado nenhum ferimento físico no sargento preso. Suplicy pediu ainda que Figueiredo retorne ao trabalho para não ser considerado também um desertor.

Companheiro
Em nota divulgada nesta tarde, o Centro de Comunicação do Exército disse que o sargento Fernando Alcântara de Figueiredo, companheiro do sargento Laci, deve se apresentar ao comando de sua unidade de origem e deverá responder administrativamente pela sua ausência recente. O texto também diz que Laci vai permanecer sob cuidados médicos, mas à disposição da Justiça Militar.

Veja a íntegra da nora do Exército

"O Centro de Comunicação Social do Exército informa que:
A propósito dos fatos envolvendo militares do Exército, esclarece-se que o Sargento LACI MARINHO DE ARAUJO foi transportado de São Paulo, local de sua prisão, para Brasília, sede de sua organização militar de origem, a fim de que seja dada continuidade aos procedimentos judiciais normais, fruto de seu indiciamento em crime de deserção. Em decorrência de seu atual quadro de saúde, o militar permanecerá sob cuidados médicos, mas à disposição da Justiça Militar. Quanto ao sargento FERNANDO ALCÂNTARA DE FIGUEIREDO, o militar realizará sua apresentação ao comando de sua unidade de origem e deverá responder, administrativamente, pela sua ausência recente. Atenciosamente, CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO"

Nota Oficial

Em nota oficial, o Exército argumenta que Araújo está na condição de “desertor e foragido da justiça militar desde maio de 2007”. Segundo o braço das Forças Armadas, o sargento já foi objeto de investigação (sindicância) porque deveria ter apresentado exames que comprovassem seu estado de saúde após ele ter ficado um longo período afastado do serviço militar por problemas de ordem emocional. O Exército alega que chegou a enviar um neurologista à casa de Laci para que ele fosse examinado, mas o militar se negou a passar pelo exame médico.

Sem comprovar o motivo de seu afastamento do serviço militar por meio de exames feitos por médicos militares, o sargento cometeu uma transgressão e por isso ficou, aos olhos do Exército, com “uma postura inadequada, incoerente, indisciplinada e duvidosa”. Se fosse comprovado pelo Exército o estado de saúde emocional abalado de Araújo, ele poderia até entrar com um processo de reforma (tipo de recolocação de cargo) e contar com o amparo das Forças Armadas. O processo dele está, atualmente, na esfera do Ministério Público Militar.

Quanto a Fernando, o Exército limitou-se a dizer em nota enviada à Época que ele foi transferido do Hospital Geral de Brasília para o 19º Batalhão de Infantaria Motorizado, em São Leopoldo (RS), “por necessidade do serviço e de recompletamento de claros no Exército”. No fim do programa de ontem, Luciana Gimenez encerrou a atração sem mostrar o desfecho do cerco policial e a conseqüente prisão do sargento.

OAB e Frente Parlamentar entram no caso

A Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP e o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) querem que a Defensoria Pública da União assuma a defesa do sargento Laci. Segundo a OAB-SP, o Exército rumou para a RedeTV, sem ter em mãos o mandado de prisão do sargento. O documento só teria chegado às mãos dos coronéis César Augusto Moura e Luis Augusto de Oliveira Santiago, do Comando Militar do Sudeste, pelo fax da própria emissora, no fim da madrugada.

Além da OAB, a Frente Parlamentar pela Cidadania GLBT marcou reunião com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, para discutir a prisão de Laci. Para Jobim, a prisão do sargento não teve motivações homofóbicas.

Nenhum comentário: